Por J. Lucas de Almeida M.
Não são poucas as pessoas que acreditam que um dia o Brasil possa ser um país decente e próspero. O otimismo parece ser a marca registrada do brasileiro, podendo mencionar a conhecidíssima música “Amanhã vai ser outro dia”, do compositor Chico Buarque. Nela, a ânsia de um futuro melhor e livre da ditadura de 64, consegue trazer luz e vida a uma existência melancólica, conforme o cantor destaca na letra. A cada dia o cidadão comum é bombardeado com “boas notícias”: escândalos de corrupção, alta no número de homicídios, aumento da inflação, impunidade, subida drástica do dólar, instabilidade política e desemprego galopante.
Na literatura, nomes como do pregador espírita, Chico Xavier, criaram obras retratando, sob um prisma positivo, o papel do Brasil no mundo. Especificamente, “Brasil, coração do mundo e pátria do Evangelho”, tenta persuadir emocionalmente o leitor da missão espiritual que a nação brasileira tende a desempenhar no mundo.
O problema dessa narrativa é que ela é fundamentalmente religiosa, ou seja, não apresenta qualquer comprovação científica. Não adentrando em questionar os clichês fartamente escritos por Chico Xavier no manuscrito: grandeza territorial, bondade/hospitalidade do brasileiro, abundantes recursos naturais e potencial econômico. Se tratando do Brasil e o inerente complexo de inferioridade que o brasileiro tem, o livro serve, em primeira análise, para despertar ufanismo no coração do indivíduo castigado pela triste realidade brasileira: somos uma pátria sem futuro, sem importância e sem brilho para o globo. Podemos destacar, por consequência, o fato que a obra foi redigida (1938) durante o governo autoritário de Getúlio Vargas, marcado por um desregrado sentimento nacionalista, que possivelmente teria influenciado a qualidade do exemplar, como o afamado panfleto “Brasil, país do futuro” de Stefan Zweig. São escritos clássicos, contudo conseguiram colonizar o imaginário doméstico e internacional por décadas.
A pergunta que muitos fazem atualmente é: por que o Brasil deu errado? Bem diferente da certeza do passado: o Brasil é o país do futuro! O parlamentar monarquista e descendente de D. Pedro II, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, se propôs a responder essa indagação no livreto “Por que o Brasil é um País Atrasado”, galgando diagnosticar os erros que impediram o pleno desenvolvimento brasileiro. De antemão, se trata de um endosso ao passado monárquico, este sim grande responsável pela pífia capacidade industrial e a acachapante desigualdade socioeconômica que aflige o País.
O apresentador Luciano Huck, sempre cogitado a disputar o cargo de presidente, chegou a admitir que o Brasil fracassou como Estado-nação. Em outros termos, é uma sensação que está se difundindo e fincando raízes no pensamento popular. Com a explosão de canais e páginas de História, o “afegão médio” terá a chance de aprender fatos, temas e curiosidades até então inacessíveis ou desconhecidas por grande parte da população.
A capa da revista Isto É de setembro de 2021 publicou “O Brasil que dá certo”. Corrigimos: trata-se de São Paulo, administrada por João Dória e Henrique Meirelles, mesmo diante dos percalços enfrentados durante a pandemia do Covid-19. O texto detalha que o crescimento econômico paulista segue positivo, em contraponto ao do Brasil, acostumado a regredir nas últimas décadas. É óbvio o rol de críticas e xingamentos que podemos outorgar ao governador paulista, sobretudo pelo seu oportunismo político e exacerbado nacionalismo brasileiro, mas é manifesto que ele tem em mãos uma nação rica e com um formidável potencial, comprovando-se pelos números, dados e estatísticas.
Lula e Bolsonaro são dois retratos do mesmo Brasil, com pequenas nuances no campo ideológico. Ambos conseguiram iludir seguimentos sociais, sedentos por mudanças práticas. Eles representam a falência moral e política que marca tanto a esquerda quanto a direita brasileira. Hoje, são repudiados por uma imensa quantidade de eleitores cansados de juramentos falsos. Esse sentimento de desencanto com a velha política brasileira deveria ser revestido para a edificação de uma terceira via genuinamente radical: o separatismo.
Não interessa aos burocratas de Brasília alterar o status quo e nem sanar os embaraços que vivemos desde 2013. A verdadeira transformação está na potencialidade de cada estado federativo, revoltar-se contra as políticas e desígnios dos donos do poder. A cidade de Brasília foi genialmente projetada para ser um bunker, impedindo, em tese, que a casta política possa sucumbir a pressões populares como na antiga capital Rio de Janeiro. O campo de batalha contra o Brasil deve estar, principalmente, nas assembleias de poder estaduais.
O Brasil, tal como a União Soviética, é irreparável. A ortodoxia marxista-leninista não conseguiu se sustentar por mais que seis ou sete décadas. As contradições internas provocaram mudanças estruturais relevantes, com a independência das quinze repúblicas. É perceptível que algumas nações se tornaram afortunadas, como o caso dos Bálticos; outras, entretanto, não lograram a circunstância do fim do comunismo para gerar riqueza e felicidade. Assim será o enredo independentista pós-Brasil: uns transbordando abundância outros chafurdados no mais absoluto bananismo. Como paulistas, não devemos nos preocupar senão com o nosso futuro e bem-estar. Cada nação terá a governança que merece.
Em síntese, não devemos insistir em soluções genéricas e reformistas para o Brasil e nem se enganar com líderes messiânicos. Radicalizar é preciso, separar é imperativo!
REFERÊNCIAS
O Brasil que dá certo. Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2021 'O Brasil não deu certo', diz Huck em evento com presidenciáveis. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/04/17/o-brasil-nao-deu-certo-diz-huck-em-evento-com-presidenciaveis.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 10 set. 2021
*O autor é apoiador do MSPI.
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