J. LUCAS DE ALMEIDA M.
Nos últimos anos, tornou-se palavra de ordem nos círculos nacionalistas brasileiros, a afirmativa que o separatismo é um estratagema do imperialismo contra o Brasil. De fato, o separatismo pode ser maquiavelicamente empregado pelas grandes potências, como discutiremos um exemplo recente. No entanto, o independentismo é um mecanismo salutar e eficiente de combate ao próprio imperialismo. Ao longo da história, testemunhamos a queda de numerosos impérios, que outrora se julgaram senhores do “pálido ponto azul” descrito por Carl Sagan.
A caída do Império Austro-Húngaro, verbi gratia, possibilitou a edificação de um equilíbrio de poder regional, limitando a autoridade internacional de Viena desde 1918. A Áustria, reputada sucessora do suntuoso e arrogante Império Habsburgo, é uma expotência imperialista derrotada pela autodeterminação dos povos. O imperialismo de Viena sempre encabeçou uma guerra contra movimentos e intelectuais próindependência, utilizando diversos artifícios para impedir (ou adiar) a desintegração do império multicultural. Em última instância, é uma amostra do que pode vir a se tornar as nações imperialistas do século XXI: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China, França e assim por diante.
O separatismo é uma força patriótica, pois necessita de uma justificação para a ação política, sempre recordando e evocando o passado histórico (geralmente de contestação militar) para lutar contra os grilhões do presente. Longe de ser traduzido como um agrupamento de traidores, os movimentos separatistas são os melhores representantes de um povo e da sua mais sagrada e valiosa riqueza: a cultura.
Um problema que reflete a tortuosa relação entre o nacional e o regional é o aspecto dos heróis. No caso de São Paulo, o maior inimigo da história paulista, é qualificado como titã pelo Brasil: Getúlio Dornelles Vargas. Como fazer parte de um país quando muitos “heróis nacionais” são avaliados como bandidos, canalhas e ditadores por outras regiões? Isso não coloca em xeque a propalada união nacional? Esse dilema não é uma questão estritamente brasileira como também internacional. Abraham Lincoln e Robert Lee são personalidades de máximo respeito. Todavia, na Dixieland, Lincoln não é tão bem recepcionado, assim como Lee não é saudado com estima pelos nortistas. Como conseguir conciliar inimigos históricos? Bem, essa é uma tarefa fadada ao fracasso e comprova o quão fatigante é o liame entre regionalismo e nacionalismo. A melhor resposta, em todo caso, é o separatismo, pois se esquiva desses embaraços históricos e sociais.
Mas, nem toda “espécie” de separatismo faz jus a ser apoiada. Por exemplo, a fragmentação do leste ucraniano é uma forma grotesca de imperialismo russo materializada na Novorossiya. Na melhor das hipóteses é um “separatismo tabajara”, ou seja, não tem como fim a liberdade, mas a opressão colonial e o expansionismo moscovita que pregressa desde o período czarista e que ganha contornos cada vez mais ofensivos com a ascensão de Vladimir Putin ao poder. Da mesma maneira podemos polemizar parcialmente contra a Abecásia e a Ossétia do Sul, províncias rebeldes gerenciadas pelo Kremlin contra a Geórgia. Nestes casos, sim, o “separatismo” deve ser rechaçado, já que atende tão unicamente aos interesses imperiais de uma grande potência.
Como podemos vencer o imperialismo russo? Basta que a Karélia, Chechênia, Tartária, Yakutia, Bashkiria, Dagestão, Adyghea, Kaliningrado, Buryatia e outras regiões triunfem.
Como vencer o tão propalado imperialismo ianque? Apoiando uma nova Confederação, a separação da Cascádia, Califórnia, Nova Iorque, Alaska, Deseret e Hawaii.
Como golpear o imperialismo chinês? Oferecendo apoio aos povos irmãos de Xinjiang, Taiwan, Macau, Hong Kong, Tibete e Mongólia Inferior.
Como aniquilar o imperialismo inglês? Dando auxílio para os escoceses, galeses e irlandeses.
Não será uma classe (proletária) que vencerá o imperialismo, como os marxistas “profetizaram”, mas sim uma determinada cultura e um povo reivindicando autodeterminação e independência.
O independentismo é uma arma contra o imperialismo dos Estados Unidos, China, Canadá, Japão, Rússia, França, Inglaterra, Espanha, Turquia, Irã, Israel, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Alemanha e Itália.
Os povos que vivem nos territórios da antiga Confederação americana não compartilham os mesmos interesses políticos, militares e econômicos dos banqueiros de Wall Street, dos playboys de Beverly Hills ou dos falcões da guerra de Washington.
É o nosso grande desejo viver em uma nova América do Sul, onde a grotesca rivalidade entre Brasil e Argentina dará lugar à amizade entre São Paulo e a Patagônia; entre a nação sulista e Mendonza. O futuro, sem sombra de dúvida, é a secessão universal dos povos!
REFERÊNCIAS
A Pale Blue Dot. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2021
*O autor é apoiador do MSPI.
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