"Se, por infelicidade, não conseguirmosseparar São Paulo do Brasil, podemospelo menos macaquear os revolucionáriosde 1932 e pleitear uma nova Constituição.Escrita por um pequeno grupo de juristas etributaristas sem vinculação partidária"
Vamos separar São Paulo do resto do Brasil. Vamos separar o Sul do Norte. Vamos separar o Xingu. Vamos separar o Acre e anexá-lo ao Peru. Vamos separar o estado da Guanabara. Eu moro em Ipanema. Vamos separar Ipanema do Rio de Janeiro. Vamos aproveitar para separar Ipanema dos coliformes fecais. Vamos lá. Vamos separar tudo. Separar é sempre bom.
O Brasil não tem uma grande tradição separatista. São Paulo se entusiasmou pela idéia durante a Revolução Constitucionalista de 1932, quando tentou se livrar dos interventores federais. O problema é que nós, paulistas, somos fujões, e nos rendemos depois que as tropas da ditadura getulista abriram fogo e mataram pouco mais de 600 dos nossos soldados. Com o fracasso militar, o estado de São Paulo voltou a ser dominado por interventores federais. Ou, para usar um bordão da época, voltou a ser dominado "por gente estranha". Ainda hoje somos dominados por gente estranha. O Professor Luizinho, por exemplo. Ele pode ter sido eleito em São Paulo, mas alguém consegue pensar numa gente mais estranha do que ele?
Se, por alguma extraordinária infelicidade, não der para separar São Paulo do Brasil, podemos pelo menos macaquear os revolucionários de 1932 e pleitear uma nova Constituição para o país. Porque a atual não presta. Nasceu torta. Foi escrita pelos mesmos políticos que, mais tarde, iriam se encarregar da administração pública. Legislando em causa própria, eles só se preocuparam em aumentar a arrecadação do Estado e a distribuição de verbas eleitoreiras. Sugiro que os novos constituintes sejam proibidos de exercer cargos públicos. Ou, melhor ainda, que a Constituição seja escrita por um pequeno grupo de juristas e tributaristas sem vinculação partidária, e que depois passe por um referendo.
Os sulistas foram mais bem-sucedidos que nós e chegaram a se separar do Brasil, na Guerra dos Farrapos. Se eles não tivessem sido derrotados militarmente, estariam muito melhor agora, com um país independente. Até hoje aparecem uns políticos pitorescos propondo plebiscitos para revogar o Tratado de Ponche Verde e restabelecer uma espécie de República Rio-Grandense nos territórios do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A Guerra dos Farrapos foi uma resposta aos impostos extorsivos cobrados pelo poder central. Quase dois séculos mais tarde, o problema permanece o mesmo. O poder central continua a extorquir as regiões mais ricas do país para cobrir seus gastos abusivos e financiar as regiões mais pobres, estimulando o surgimento de monstruosidades administrativas como esses municípios nordestinos que nunca tiveram receita própria e dependem inteiramente dos repasses da União. A rebelião fiscal é a arma mais eficiente contra a irresponsabilidade financeira do governo centralizado. As regiões mais ricas do Brasil deveriam ter feito uma Guerra dos Farrapos a cada vinte anos. A esta altura, não estaríamos insolventes.
Tem gente que me acusa de falar mal o tempo todo e de não propor soluções para melhorar o país. Acaba de ficar provado que eu sou melhor quando não proponho soluções.
DIOGO MAINARDI é jornalista e escritor. Participa atualmente do programa Manhattan Connection, da Globo News.
Fonte: Veja - http://veja.abril.com.br/151204/mainardi.html
Publicado originalmente em 09/01/2014
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