sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A afirmação da identidade Paulista

FELIPE NOGUEIRA

Vivemos num mundo em que as pessoas estão cada vez mais com crises de identidade. Isto é, estão cada vez mais se desconectando de suas identidades tradicionais em nome de uma ideia abstrata de liberdade e igualdade. Se identificar com a sua terra, povo, tradições tornou-se algo errado e retrógrado, algo que leva aos fantasmas do nacionalismo levados de forma extrema e que, consequentemente, levam ao racismo e xenofobia. Logo, a identidade de grupo se perde, não vale mais a pena lutar por ou defender a sua comunidade, as pessoas com quem você tem algo em comum e com quem você quer compartilhar algo. Assim, o que resta é o plano menor da identidade, a identidade individual. Mas esta também sofre ataques. Pensa-se que a identidade individual se baseia numa capacidade de poder fazer o que você quiser, todos os seus caprichos, sem nenhuma restrição, com toda a “liberdade”. Mas a liberdade total não é realmente possível. Isso se manifesta na ideia do “a sua liberdade acaba onde a minha começa”. Assim terminamos em um mundo onde tudo deve ter regras, em que tudo deve ser avisado e regularizado, já que o bom senso não tem mais tanto importância.

O que se vê é cada vez mais pessoas perdidas no mundo, desorientadas e que não se preocupam mais com uma ideia de coletivo, em se sentirem como parte de algo maior. Na verdade, para essas pessoas, o coletivo é o obstáculo para os seus caprichos e “liberdades”. Ter o seu espaço especial dentro do coletivo é errado, já que somos todos iguais e “livres”. O coletivo oprime a nossa “identidade”. Por isso vemos tantas correntes ideológicas super individualistas crescendo entre as gerações mais jovens, como o feminismo radical, anarquismo, marxismo e uma postura hostil à coisas consideradas por eles como tradicionais e retrógradas.

Todas essas coisas servem bem ao atual sistema e ordem mundial. O atual sistema é regido apenas pelo dinheiro, pelo valor financeiro das coisas. O que importa é o quanto se pode lucrar, os potenciais mercados. As corporações não enxergam as identidades, na verdade, as identidades são barreiras. A cultura só é interessante quando pode ser enlatada e vendida. Como comida mexicana, japonesa, italiana, perfumes franceses, tecidos indianos, etc. É necessário que as pessoas abandonem a sua conexão com o seu povo e terra para se transformarem em simples consumidores livres de “preconceitos”. Seres divididos, sem conexões com os seus próximos. Ser leal a um grupo, a um povo, a uma nação é um obstáculo ao mercado, pois pessoas que ainda possuem essa lealdade conseguem enxergar coisas que são prejudiciais à sua comunidade e assim tomam ações para evitar que tais coisas aconteçam. É do interesse da atual ordem que as pessoas não enxerguem essas coisas.

Pode-se também distrair as pessoas fazendo as adotarem “ideologias”. Há um grande debate hoje, especialmente em universidades, sobre formar cidadãos “críticos” e politizados. Mas esses debates se resumem em continuar atacando as ideias tradicionais de identidade e lealdade a uma comunidade e a doutrinar os jovens estudantes a adotarem correntes ideológicas. Assim, cria-se uma geração jovem sem um ponto de referência, desconectados de suas raízes, que adotará facilmente “ideologias” e que interpretará fatos antes mesmo deles acontecerem, baseados na sua ideologia. A formação política deve ser o último dos objetivos. É necessário primeiro que o jovem tenha vivência, experiência e conhecimentos, para que ele chegue então às suas próprias conclusões sobre o mundo e, então, forme o seu pensamento político e crítico, não a via contrária.

Dentro de todo esse contexto, nós Paulistas, devemos defender o que somos. Criar um mundo em que possamos manifestar a nossa identidade sem medo. Devemos defender o que nos é belo e lembrar de quem fomos e de quem somos. Manter nossas tradições não é ser retrógrado, mas lembrar daqueles que enfrentaram diversas batalhas, fizeram enormes sacrifícios e lutaram em defesa de nossos valores. É lembrar de todas as pessoas que nos fizeram chegar onde estamos e defender o nosso mundo para aqueles que virão depois. Não defendemos uma visão cega sobre tradição ou simples conservadorismo de coisas retrógradas, mas uma constante lembrança de quem somos, da nossa identidade. Assim como uma árvore, trocamos as folhas, mas não as raízes.

Ao mesmo tempo que conservamos o que nos é belo e o que nos eleva o espírito, também não devemos ter medo de nos rebelarmos contra o que nos oprime, como já foi feito antes. O pensamento de estar sempre a frente, de não ser submisso, é manifestado nos levantes armados contra a ordem estabelecida e que ajudaram a moldar o atual o espírito Paulista, de se fazer através do seu trabalho e continuar movendo a grande locomotiva. Nosso lema é “NON DVCOR DVCO”, “Não sou conduzido, conduzo”.

Por isso, precisamos vencer a atual crise de identidade e nos manter distantes da atual massa da cultura global de simples consumo, um mundo que tenta isolar a pessoa dentro de ideias abstratas de liberdade e igualdade, que na verdade só a torna um simples consumidor. Temos que negar a identidade nacional da brasilidade, enlatada e rotulada, feita apenas para vender e ser consumida. Nossa identidade não pode ser artigo de venda. E também importante, precisamos superar as barreiras ideológicas de antes.


As “ideologias” são armas eficientes de nos dividir e nos desorientar. Partidos e grupos políticos que parecem opostos acabam servindo a mesma ordem. Buscam identificar a pessoa apenas dentro de uma classe ou dentro de uma liberdade que se trata apenas de liberdade de consumo. Temos que nos preocupar com a defesa daquilo que admiramos e eleva nosso espírito, além das barreiras ideológicas que já não fazem mais sentido. Devemos estar além de tudo, buscando o melhor para nós e para o nosso povo. Não somos apenas peças isoladas e egoístas. Quem assim pensa, apenas contribui para a atual ordem das coisas. Continua a contribuir para um mundo em que as pessoas não se veem mais na tarefa de construir um mundo melhor, onde possam viver para todo o seu potencial e manifestar o que elas realmente são, mas contribui para um mundo onde cada ser permanece isolado e em um constante conflito contra aqueles que restringem as suas “liberdades”.

Somos mais que um partido, somos mais que uma classe, somos mais que um mercado. Estamos muito além de tudo isso.

Somos Paulistas e orgulhosos.

* O autor é professor e foi secretário-geral do Movimento São Paulo Independente.

Encontro separatista realizado em 2024

 A direção do MSPI realizou na capital bandeirante um breve encontro de apoiadores, no mês de março/2024, onde foi possível tratar de questõ...